sábado, 26 de janeiro de 2013

Coluna Diácono Souza

26 de janeiro de 2013 - A Fé

Parte 4 - A Fé de Jesus

Alguns pensam que Jesus, como Filho de Deus, não precisava da fé. Ele mesmo era Deus. Mas Jesus era verdadeiro homem, e como homem tinha fé exatamente como nós. Quando observamos a fé de Jesus, nós deparamos com suas declarações sobre a fé, podemos descobrir sua própria confiança. Já vimos anteriormente que Jesus fala da fé que cura as feridas, da fé que remove montanhas e da fé em Deus como o bom e misericordioso Pai. Mas a fé de Jesus transparece também em sua pregação. Quando Jesus e seus discípulos se viram envolvidos numa forte tempestade no mar, os discípulos entraram em pânico. Jesus, porém, estava deitado no barco e dormia. Neste sono se expressa sua confiança. Nada daquilo que Deus não quer lhe acontecerá. Sabe que está seguro sob a proteção de Deus. Quando Jesus cura doentes, manifesta-se também nisso sua confiança na força curadora de Deus. Jesus não duvida de que Deus o enche com sua força curadora. Os doentes vêm a Jesus. Certamente sai de Jesus uma irradiação tão forte que as pessoas se sentem atraídas por Ele. Diante dele a mulher com o fluxo de sangue pode confessar a sua verdade. De Jesus sai alguma coisa que dá coragem às pessoas, que sofrem interiormente e que desejam esconder dos outros sua verdade mais íntima, de abrir-se e mostrar-se a Jesus com suas feridas.
Na pregação de Jesus, vemos como Ele fala de Deus e como se posiciona em relação a este Deus e como que ele nos anuncia. É um Deus que nos aceita incondicionalmente, que nos perdoa os nossos pecados, que nos levanta e nos conduz para a liberdade. Aprendemos das palavras de Jesus sua relação como o Pai. Fé e para Ele uma relação íntima com Deus. Aos apóstolos ficaram tão fascinados  com a oração de Jesus que lhe pediram que lhes ensinasse a rezar. No Pai-Nosso torna-se bem clara a fé ao Pai. Para Ele, trata-se em primeiro lugar de que o Pai seja glorificado. Jesus não usa o Pai para si e para seus feitos milagrosos. Seu interesse é ser totalmente permeável à ação do Pai, para que seu reino se torne visível. Quando rezamos, não nos devemos impor grande esforço, como se pudéssemos com muitas palavras forçar Deus a atender as nossas súplicas. Para Jesus, essa é a maneira como agem os pagãos. “Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que precisais, antes mesmo que lho peçais”. Nesta frase torna-se patente a confiança de Jesus. Deus nos atende quando oramos. Deus realiza em nós aquilo que lhe pedimos. A fé, para Jesus, é antes de tudo isenção de medo. Exorta seus discípulos a não terem medo de ninguém, nem da própria verdade diante daquilo que está escondido em seus corações e nem das pessoas que os perseguem e os ameaçam de morte. A fé nos dá segurança em Deus. Quem está em Deus, a este não pode acontecer nada de ruim.
Fonte: Amselm Grun.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Coluna Diácono Souza

19 de janeiro de 2013 - A Fé

Parte 3 - A Fé de Maria

O evangelista Lucas apresenta-nos Maria como exemplo e espelho da fé. Quando o anjo chega até ela e lhe anuncia que deveria dar à luz um filho, que será chamado Filho do Altíssimo, ela acredita no anjo. Zacarias, o homem e sacerdote, não acreditou na mensagem do anjo. Maria, contudo, mostra-nos como se processa a fé. Ela confia no anjo. Trava uma conversa com ele. Nós pensamos hoje que também acreditaríamos se descesse um anjo alado até nós.
Mas não podemos imaginar a aparição do anjo de maneira tão simplória e evidente. O anjo pode ter sido uma pessoa que prometeu alguma coisa a Maria. Pode também ter sido um impulso interno que brotou na calma do recolhimento de Maria, ou um sonho que lhe sobreveio. A grandeza de Maria está em não menosprezar essa voz suave do anjo e não tê-la afastado com argumentos racionais. Ela confiou nessa voz. Tomou a sério a voz e procurou entende-la. Ela objetou à voz do anjo: “Como será isto, se eu não vivo com um homem?”  Mas o anjo contra argumenta: “Para Deus nada é impossível”.  A estas palavras Maria se entregou à vontade de Deus. “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a sua palavra”. Maria coloca-se à disposição de Deus. Ela se entrega aos desígnios de Deus, sem saber o que isso iria significar para ela. Com fiando na palavra do anjo, ela se põe a caminho e sobrepassa as montanhas da dúvida, dos temores e dos preconceitos para visitar sua prima Isabel. Isabel elogia sua fé: “Feliz aquela que creu, pois o que foi dito da parte do Senhor será cumprido”.
Para Lucas, Maria é o exemplo das pessoas que crêem. Ela crê nas palavras de Deus que o anjo lhe anunciou. Zacarias não acreditou e por isso ficou mudo. Maria acredita e começa a cantar. Seu júbilo se traduz no Magnificat: “Minha alma engrandece o Senhor” . Ela confia no Deus que revoluciona todos os comportamentos e padrões humanos, que exalta os humildes e cumula de bens os famintos. É o Deus que olha para sua humilde serva de Nazaré fez nela coisas maravilhosas. “Doravante todas as gerações me chamarão bem aventurada”. Torna-se evidente nestas palavras como a fé em Deus lhe dá também autoconfiança. Ela, que nada tem a exibir, confia, no entanto, que as gerações futuras vão chamá-la de bem-aventurada. A verdadeira grandeza nos vem de Deus. Mas compete-nos estar sintonizados  com tal grandeza.
A fé de Maria confirma-se após o nascimento de seu filho, ao guardar em seu coração tudo o que ouve dos pastores e do velho Simeão sobre a criança e refletir sobre isso. Ter fé não significa entender logo o que aconteceu, mas guardar, pensar nele, até que um dia o sentido fica manifesto.

Fonte: Amselm Grun.


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Coluna Diácono Souza

12 de janeiro de 2013 -  A Fé

Parte 2 - A Fé de Abraão

Paulo considera Abraão o protótipo da fé, pois atendeu ao apelo de Deus, que o tirou de sua casa paterna e de seus parentes e foi para a terra que o próprio Deus queria lhe mostrar. A fé aqui tem a ver com o risco e mudança. Deixou para trás a situação segura e confiou em Deus para seguir o incerto. “Não sei o que Deus vai me mostrar. Apesar disso, deixo meus bens, meus relacionamentos, meu passado para me confiar ao futuro”.
Para os monges primitivos, tratava-se aqui de uma tripla saída que a fé causa. A primeira é a saída do passado, abandono dos sentimentos passados, a experiência do lar e do aconchego. A segunda é a saída da propriedade, daquilo que consegui obter e produzir; e a terceira refere-se ao visível: eu deixo para trás o que vejo e me confio ao que não vejo, ou que ainda não posso ver. Lemos em Gn 15,6: “Abraão creu em Javé, o qual lhe creditou isto como justiça”. Esta frase tornou-se importante para o apóstolo Paulo, pois para ele é a fé que justifica a pessoa e não as obras da Lei.
Na fé, a pessoa recebe nova existência. Ela se livra da compulsão de ter de justificar-se a si mesma. Livra-se da própria opressão de rendimento de ter de provar a si e aos outros que vale alguma coisa. Na fé entrega-se ao amor misericordioso de Deus. E ali seu verdadeiro valor experimenta seu verdadeiro valor. Ali sente que é aceita incondicionalmente por Deus. É uma necessidade primitiva da pessoa produzir alguma coisa da qual possa orgulhar-se.
A fé significa deixar para trás tudo o que possuo para caminhar ao encontro de Deus que preenche meu desejo mais profundo. Quando Abraão saiu de sua terra, não sabia aonde haveria de chagar (cf Hb 11,8). Apesar disso, ele tentou. Ter fé significa também para nós demolir antigas tendas, sem saber onde nos poderemos estabelecer. Sair é um risco. Mas este risco é parte essencial da fé. É uma promessa que seguimos, mas não com certeza absoluta. Quem tem fé confia que Deus satisfará seu desejo e que o levará para a terra onde poderá estar de fato em casa. Tudo o que nós mesmos construímos não nos oferece um lar.
A finalidade última da fé é procurar um lar onde possamos estar em casa e aconchegados para sempre. Assim também o entende a Epístola aos Hebreus. Os que crêem demonstram claramente que estão à procura de uma pátria. E se lembrassem a que deixaram teriam tempo de voltar para lá. Eles aspiram, com efeito, a uma pátria melhor, isto é, a uma pátria celestial. Nessa confiança de que nos espera uma pátria melhor, a pátria em Deus, podemos sempre de novo abandonar os nossos pertences, as certezas que nos prendem e nos colocam a caminho. A fé nos mantém em movimento. Ela nos liberta de todas as dependências e amarras pelas quais nossa existência vem muitas vezes determinadas.
Jesus foi por excelência o exemplo da verdadeira fé. Confiou plenamente em Deus Pai e se entregou totalmente para que a salvação da humanidade acontecesse. A Virgem Maria também deu o seu testemunho de fé, dizendo o seu sim a Deus e se entregando à vontade dEle dizendo: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a sua palavra.
Fonte: Amselm Grun.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Coluna Diácono Souza


05 de Janeiro 2013 - A FÉ

Neste "Ano da Fé", a Coluna Diácono Souza publica neste mês de Janeiro uma série de 4 artigos sobre a Fé. 
Diácono José Souza é colunista do Jornal A Voz da Paróquia Santíssimo Sacramento, ....

Parte 1 - A Fé explicada

Na religião tudo se baseia na fé. Sem ela, não há nada. Por isso devemos começar por concentrar a atenção na virtude da fé. Sabemos que nessa virtude infundida na nossa alma, juntamente com a graça santificante, no momento do batismo, mas sabemos também, que ficaria anquilosada na nossa alma se não a vitalizássemos mediante atos de fé. Fazemos um ato de fé de cada vez que assentimos conscientemente às verdades reveladas por Deus, não precisamente por as compreendermos plenamente, não precisamente por terem sido demonstradas, e a prova nos ter convencido cientificamente, mas sim, primordialmente, porque Deus as revelou. Deus, por ser infinitamente sábio, não pode enganar-se. Deus por ser infinitamente verdadeiro não pode mentir. Em consequência, quando diz uma coisa é assim e não de outra maneira, não se pode pedir certeza maior.
É fácil ver a razão por que um ato de fé e um ato de culto a Deus. Quando digo: “Meu Deus, creio nestas verdades porque as revelastes, e Vós não podeis enganar-vos nem enganar-me”, estamos honrando a sabedoria e a veracidade infinitas de Deus do nodo mais prático possível aceitando-as com base na sua palavra.
Este dever de dar culto a Deus pela fé impõe-nos umas obrigações concretas. Deus não faz as coisas sem motivo. É evidente que, se nos deu a conhecer certas verdades, é porque de algum modo elas seriam úteis para alcançarmos o nosso fim, que é dar-lhe glória pelo conhecimento, pelo amor e pelo serviço. Assim, saber que verdades são essas converte-se numa responsabilidade para nós, segundo a nossa capacidade e oportunidades.
A nós que já possuímos a fé, temos que ver se não dormimos sobre os louros. Não podemos estar tranquilos pensando que, por termos frequentado um colégio onde nos ensinaram o catecismo na juventude, já sabemos tudo o que precisamos sobre religião.
Uma mente adulta necessita de uma compreensão de adulto das verdades divinas. Ouvir com atenção sermões e práticas, ler livros de doutrina cristã, participar de cursos ou círculos de estudo sobre temas da fé e de vida cristã não são simples questões de gosto, coisas em que nos ocupamos. Não são práticas piedosas para almas devotas. É um dever essencial procurarmos um adequado grau de conhecimento da nossa fé, e esse dever resulta do primeiro dos mandamentos. Não podemos fazer atos de fé sobre uma verdade ou verdades que nem se quer conhecemos.
Muitas tentações sobre a fé, se as temos, desapareceriam se nos déssemos ao trabalho de estudar um pouco mais as verdades da nossa fé.
O primeiro mandamento não nos obriga apenas a procurar as verdades divinas e a aceitá-las. Também nos pede que façamos atos de fé, que prestemos culto a Deus pela adesão explícita da nossa mente às suas verdades, uma vez alcançado o uso da razão. Quando devo fazer atos de fé?  Com frequência, mas sobretudo quando chega ao meu conhecimento uma verdade de fé que ignorava anteriormente. Devo fazer um ato de fé quando se apresenta uma tentação contra esta virtude ou contra outra qualquer virtude ou contra outra qualquer em que  a fé esteja implicada. Devo fazer um ato de fé muitas vezes na vida, para que a virtude não fique inativa por falta de exercício. A prática habitual do bom cristão são atos de é diariamente, como parte das orações da manhã e da noite.
O primeiro mandamento obriga-nos a conhecer o que Deus revelou e a crer nessas verdades firmemente. Isto é o que significa praticar a virtude da fé. Sempre que deixamos de fazê-lo pecamos contra a fé.
Fonte: Léo J. Trese