terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Coluna Diácono Souza

12 de janeiro de 2013 -  A Fé

Parte 2 - A Fé de Abraão

Paulo considera Abraão o protótipo da fé, pois atendeu ao apelo de Deus, que o tirou de sua casa paterna e de seus parentes e foi para a terra que o próprio Deus queria lhe mostrar. A fé aqui tem a ver com o risco e mudança. Deixou para trás a situação segura e confiou em Deus para seguir o incerto. “Não sei o que Deus vai me mostrar. Apesar disso, deixo meus bens, meus relacionamentos, meu passado para me confiar ao futuro”.
Para os monges primitivos, tratava-se aqui de uma tripla saída que a fé causa. A primeira é a saída do passado, abandono dos sentimentos passados, a experiência do lar e do aconchego. A segunda é a saída da propriedade, daquilo que consegui obter e produzir; e a terceira refere-se ao visível: eu deixo para trás o que vejo e me confio ao que não vejo, ou que ainda não posso ver. Lemos em Gn 15,6: “Abraão creu em Javé, o qual lhe creditou isto como justiça”. Esta frase tornou-se importante para o apóstolo Paulo, pois para ele é a fé que justifica a pessoa e não as obras da Lei.
Na fé, a pessoa recebe nova existência. Ela se livra da compulsão de ter de justificar-se a si mesma. Livra-se da própria opressão de rendimento de ter de provar a si e aos outros que vale alguma coisa. Na fé entrega-se ao amor misericordioso de Deus. E ali seu verdadeiro valor experimenta seu verdadeiro valor. Ali sente que é aceita incondicionalmente por Deus. É uma necessidade primitiva da pessoa produzir alguma coisa da qual possa orgulhar-se.
A fé significa deixar para trás tudo o que possuo para caminhar ao encontro de Deus que preenche meu desejo mais profundo. Quando Abraão saiu de sua terra, não sabia aonde haveria de chagar (cf Hb 11,8). Apesar disso, ele tentou. Ter fé significa também para nós demolir antigas tendas, sem saber onde nos poderemos estabelecer. Sair é um risco. Mas este risco é parte essencial da fé. É uma promessa que seguimos, mas não com certeza absoluta. Quem tem fé confia que Deus satisfará seu desejo e que o levará para a terra onde poderá estar de fato em casa. Tudo o que nós mesmos construímos não nos oferece um lar.
A finalidade última da fé é procurar um lar onde possamos estar em casa e aconchegados para sempre. Assim também o entende a Epístola aos Hebreus. Os que crêem demonstram claramente que estão à procura de uma pátria. E se lembrassem a que deixaram teriam tempo de voltar para lá. Eles aspiram, com efeito, a uma pátria melhor, isto é, a uma pátria celestial. Nessa confiança de que nos espera uma pátria melhor, a pátria em Deus, podemos sempre de novo abandonar os nossos pertences, as certezas que nos prendem e nos colocam a caminho. A fé nos mantém em movimento. Ela nos liberta de todas as dependências e amarras pelas quais nossa existência vem muitas vezes determinadas.
Jesus foi por excelência o exemplo da verdadeira fé. Confiou plenamente em Deus Pai e se entregou totalmente para que a salvação da humanidade acontecesse. A Virgem Maria também deu o seu testemunho de fé, dizendo o seu sim a Deus e se entregando à vontade dEle dizendo: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a sua palavra.
Fonte: Amselm Grun.

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